Os Dentes do Inspetor - Editora Francisco Alves (1976)
Terminei de ler Os Dentes do Inspetor, em edição de 1976 da saudosa Francisco Alves através de sua coleção Mundo Fantástico. A edição brasileira foi dividida em dois volumes, seguindo-se a este Os Construtores de Continentes. O original (1953) se chama The Continent Makers (and other tales of the Viagens).
Foi o primeiro livro de L. Sprague de Camp que li. O otimismo da FC daquela época está presente, onde o mundo, apesar de uma III Guerra Mundial, triunfou e se lançou ao espaço, encontrando raças alienígenas para contactar e negociar. Há uma peculiaridade aqui, com os EUA e URSS, após a conflagração, terem perdido o status de grandes potências (Europa nem é citada), e quem dá as cartas na Federação Mundial é nenhum outro que... o Brasil. Nomes e expressões em brasilo-português são apresentados ao longo dos seis contos deste volume, e revertendo mentalmente o texto original para o inglês, parece que ficou bom. Isaac Asimov apresenta o volume, e garante que o autor é um pesquisador fanático. Pois, pois. Não deixa de ser uma concepção engraçada.
Os contos vão do ano 2.054 até 2.148, abarcando dois sistemas solares vizinhos com meia dúzia de planetas habitados com suas raças próprias. Os dinossauros inteligentes de Osíris, Prócion, contrastam com os semi selvagens dzlierianos, uma raça de aspecto centauroide habitando Vishnu, um dos três mundos ao redor de Tau Ceti.
E nesses cenários exóticos, ao invés de contar feitos heroicos de seres Humanos em ambientes semi desconhecidos, as narrativas se focam em presepadas e pequenos golpistas querendo tirar alguma vantagem de alguém em algum dado momento. É montada uma pequena galeria de adoráveis - ou nem tanto assim - patifes, refletindo um fenômeno típico americano, o pequeno empreendedor, small-time hustler, que gera lucros a partir de fontes não muito lá éticas ou salutares, triunfando (ou tomando corridas homéricas) em territórios onde leis e regulamentações ainda não estão exatamente claras - ou, se estão, não é nada que os impeça (o meu favorito é o monarca que desenvolve um esquema para importar tecnologia restrita para o seu reino, envolvendo a múmia de um rei ancestral - não dá pra antipatizar totalmente com o cara!). E, se é que não aparece no segundo volume, só falta um comerciante de tônico das mil maravilhas produzido sabe-se lá como em uma banheira, viajando de carroção puxado por bois, de vilarejo em vilarejo...
... e não, é o caso de "só podia dar nisso com brasileiro nas estrelas", e de Camp não antecipou a Lei de Gérson em 30 anos. Francamente.
O livro tem um quê de FC "mais antiga", não sei se a tradução ajuda a denotar isto, e pareceu-me que o autor não era exatamente alguém de maiores estilos. Mas é bem divertido, e espero conseguir obter a continuação em breve.
Os Dentes do Inspetor
144 p.
Editora Francisco Alves