sábado, 16 de novembro de 2013

A Ilha dos Dissidentes


A Ilha dos Dissidentes, ed. Gutenberg

A Ilha dos Dissidentes é o romance de estreia da brasiliense Barbara Morais, e segue pelo nicho de mercado do young adult, lugar este que ultimamente tem rendido populares acertos juntos com a Ficção-Científica.

Nele, em uma sociedade séculos à frente, transformada por guerras, divide-se em dois grandes blocos mundiais em oposição um ao outro, enquanto mutações levam à geração das aberrações, indivíduos com os genes alterados o suficiente por radiação, armas químicas e mesmo tempestades solares que acabam nascendo com superpoderes.

Como o nome indica, as aberrações são tratadas como cidadãos de segunda categoria, ferramentas e mesmo armas no conflito das duas nações, obrigadas a se vestirem de forma que as distinguam como tal e, a qualquer momento, podendo ser enviadas a missões mortais pelo regime. Vivem em cidades para elas somente, não sendo necessariamente desconfortáveis (Pandora parecia um ótimo lugar para se viver, aliás).

Narrado do ponto de vista da protagonista Sybil, uma órfã sobrevivente de um naufrágio (onde descobriu ter poderes) que chega a Pandora, cidade de aberrações, e cai em uma família adotiva amorosa, faz amigos e coisas do tipo - quando acaba sendo convocada pelo Estado...

O livro é uma boa aventura - e a isso se propõe - e ótima estreia da autora, terminando com bons ganchos para as sequências: é o primeiro duma trilogia, conforme na capa.

Contudo, cabia um melhor tratamento na revisão do texto.

A autora contou que teve a história inspirada após uma aula de Ciências Políticas, o que faz bastante sentido. FC tem sempre a chance de questionar a condição humana ao oferecer-se como metáfora da mesma, extrapolando em um cenário extremo ou simplesmente estranho. Cenário que, no caso, encontra eco nos quadrinhos, impossível não se lembrar, face a condição das aberrações, a Irmandade dos Mutantes da Marvel e seu líder, Magneto - embora esta não seja a condição aqui. Bem, não nesse primeiro livro... :)

Bom começo. Que venham as sequências.


Barbara Morais - A Ilha dos Dissidentes
304 p.
Editora Gutenberg.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A espada e o autógrafo...

A belíssima capa da nossa antologia.

E ontem foi o lançamento oficial - o livro já está à venda faz um tempinho - da coletânea Excalibur, da qual participo com meu prezadíssimo Daniel Bezerra com um conto, Momento Decisivo. É um conto baseado na lenda do encontro de Lancelot com o cavaleiro Turquine, transportado séculos e séculos à frente, em um contexto de space opera.

Foi um prazer à parte, pois fiz com um amigo meu e grande entendedor de all things arthurian. É bom quando um sócio em uma empreitada também é seu amigo pessoal, e de anos. Espero haver mais oportunidades assim.

E aí, ontem, como eu disse, foi o lançamento - e, claro, pra que um blog, não é mesmo, se você se esquece de avisar sobre isto aqui? Sentei-me com outros autores presentes da antologia, assim como Ana Lúcia Merege, a organizadora, em uma mesa, para... dar autógrafos.

Mês passado Mr. Draco, o editor Eric Santos, esteve no Rio e brevemente nos encontramos. Outro autor também estava lá, e um exemplar lhe foi dado diretamente. Eric pediu: "Assina pra ele".

Eric me pediu. Eu. Dando autógrafo.

Levei um tempo olhando para as páginas de abertura do nosso conto, com meu nome e de Daniel, babando um pouco. De ver algo assim publicado (prazeres aliás que Daniel teve ao rachar os créditos de Pura Picaretagem, com Carlos Orsi, um pouco mais cedo ainda neste ano), nome ali e tudo o mais.

E aí, ontem. Na incrível livraria Blooks, que sempre acolhe os eventos dos malucos de FC e afins. Ontem eram duas coletâneas, a nossa e Solarpunk, organizada pelo Gerson (da qual infelizmente não participei). Amigos, conhecidos e desconhecidos presentes... e eu dei autógrafos.

O primeiro foi dado a outro colega de antologia. Pensei em algo mais ha-ha-há, e assim fiz. O problema foi a noite inteira. Colei dos coleguinhas, mais safos e vividos do que eu, desejando uma boa leitura. Sim, isso era bom, sincero e enxuto. Podia repetir quantas vezes fosse. Erro de principiante, decerto. Mas assinei, assim mesmo. :)

Bobagem, claro. Mas uma bobagem de um sabor legal, se me dão licença.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Cavalo-Marinho do Céu

Cavalo-Marinho do Céu, ed. Hemus

Este livro foi escrito por Edmund Cooper em 1969, e conta a inusitada história já familiar hoje em dia de um grupo de desconhecidos que desperta em uma paisagem estranha, com elementos familiares que somente aumentam o grau de estranheza (uma rua com somente um hotel vazio, super-mercado logo à frente, também vazio), após terem sido abduzidos do voo em que viajavam.

Juntos, eles aprendem a unir esforços para descobrir onde estão e quem são seus misteriosos sequestradores, entrando em contato com dois outros grupos de seres humanos de origem adversa e nível tecnológico diferentes.

Se por um acácio você está pensando em "Lost", não deixa de ter razão. Posso garantir, entretanto, que o final não somente é surpreendente como faz sentido.

Nunca li nada do autor, mas gostei das ideias apresentadas. Talvez sob certos aspectos a história esteja um pouco defasada, com poucos conflitos dos membros do grupo principal da história, e menos ainda com os dois outros grupos. Os personagens centrais, apesar de serem simpáticos, não me pareceram bastante desenvolvidos, mas isso pode ser gosto pessoal meu.

Edmund Cooper - Cavalo-Marinho do Céu
221 p.
Hemus - Livraria Editôra Ltda.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

The Europa Report



SPOILERS!!!!!

Um bom filme de FC com tendências hard, sendo mais focado nas reações humanas do que qquer outra coisa, The Europa Report é um filme realmente de exploração espacial: o questionamento sobre sacrifícios em prol do conhecimento é algo que faz muito tempo que não vejo por aí.

Algumas coisas que eu achei meio "em prol do drama", que acaba sendo sempre mais importante do que verossimilhança: achei as duas primeiras mortes desnecessárias, no sentido de deveria haver melhores protocolos de segurança: e cadê uma boa mochilinha atividade independente, que já existe desde os anos 90? E atividades lá fora com apenas uma pessoa? Nego não pôs astronautas em dupla pra andar na Lua no programa Apolo à toa.



Ocorreu-me que - e isso não é demérito - o filme é como se fosse um trecho curto do livro 2010-Uma Odisseia no Espaço II expandido para um filme inteiro: o desastre da Tsien, em Europa, por formas de vida que dependem de luz para sobreviver.

O filme tem a estética de câmera de segurança, meio reality-show, como coisa de uma dúzia de filmes e séries dos últimos dez anos têm apresentado. Recomendo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Edgar Alan Poe - Contos do Terror


Edgar Allan Poe - Contos do Terror  - Newton Compton Brasil (1995)

Pela Coleção Econômicos Newton, adquiri esta coletânea daquele que é considerado como mestre por H. P. Lovecraft. Um dos autores mais influentes no gênero terror-gótico, também foi menosprezado em sua época, somente depois de sua morte sendo descoberto primeiro na Europa (por Baudellaire) para depois, nos EUA, ter o reconhecimento tardio: Edgar Alan Poe (1809 - 1949).

Só o conhecia mais de fama e de que tanto falam do que, realmente, por obra. E da obra, só conhecia O Corvo, talvez seu escrito mais famoso - e que sempre muito gostei, apesar de uma certa resistência interna à poesia.

A intenção deste volume foi, do que entendo, reunir os textos de Poe mais "explícitos" em relação ao sobrenatural. São eles O gato preto, A queda da Casa de Usher, O enterro prematuro, O coração denunciador, Uma descida no Maelstrom, O manuscrito encontrado em uma garrafa e O poço e o pêndulo.

Narrados em primeira pessoa, o personagem - sem nome - sempre está sob uma ameaça constante, real ou imaginária, de alguma força que, percebe logo ou não, está além de seu controle. São as descrições de cada momento, do oprimir de cada batida do coração, da respiração que vai pesando, dos passos cada vez mais pesados, até o final. São narrativas claustrofóbicas, antes de mais nada - O enterro prematuro que o diga.

Eu não sou crítico literário, sou apenas prolixo. Vou então me alongar naquilo que me fez sentir, como de hábito.

Eu achei que O gato preto talvez seja a melhor história de terror/horror. Não só pela questão do gato em si, mas da maldade inerente do personagem, que se diz bom quando mais jovem, mas que agora cometia maldades pelo bel-prazer da coisa, não obstante ainda reconhecer que o mal feito ao outro era o mal feito a si mesmo:

"Quem não se viu centenas de vezes realizando uma ação vil ou estúpida por nenhum motivo, exceto o de que não deveria realizá-lo? Não somos dominados por uma eterna tendência a violar, apesar das nossas melhores intenções, aquela que é a LEI, somente porque sabemos que é essa que estamos infringindo? Este espírito de perversidade foi a causa de minha completa desgraça. Foi essa insondável propensão da alma a torturar a si mesma - a violentar a própria natureza - a fazer o mal somente pelo prazer de fazê-lo - que me induziu a continuar e a levar até o fim a ofensa que tinha infringido ao inocente bichinho. Uma manhã, a sangue frio, deslizei um laço no pescoço dele e enforquei-o no galho de uma árvore; enforquei-o enquanto lágrimas caíam dos meus olhos e o remorso mais atroz torturava o meu coração. Enforquei-o porque sabia que ele me amara e porque não me dera nenhum motivo para sentir-me ofendido - enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado - um pecado mortal que colocaria minha alma imortal de maneira a pô-la, se isto fosse possível, fora até do alcance da infinita misericórdia do Deus Mais Misericordioso e Terrível." 

Cheerful, hm?

Essas considerações me fazem lembrar alguns escritos na coletânea da Novo Século Eu Sou A Lenda, de Richard Matheson, que já comentei aqui no blog, que também versa muito bem sobre a bestialidade humana... é o conto que mais me impactou.

Time's up.

De resto, pareceu a mim que Poe - com o risco de estar "descobrindo" alguma pólvora - às vezes torce por finais felizes. Exigências de mercado? Em O gato preto e O coração denunciador, seus personagens assassinos agem de forma a estragar seus crimes perfeitos: a Justiça é servida. Enterro prematuro e O poço e o pêndulo trazem a salvação no último segundo. Em Descida ao Maelstrom, bem ou mal o protagonista sobrevive, ainda que sorte semelhante não pareça ter ocorrido ao de O manuscrito encontrado em uma garrafa - dois contos onde o mar é o grande inimigo. A queda da casa de Usher também não termina exatamente bem, e nos apresenta a noção da decadência espiritual dos habitantes de uma mansarda se misturando com a decadência física da moradia.

O estilo de época, para o filisteu que infelizmente também posso ser, cansa-me um pouco, com seus excessos e minúcias sobre estados emocionais - sim, Romantismo, eu sei. Mas é claro que há momentos. Os ratos fazendo a festa sobre o corpo do protagonista em O poço e o pêndulo não me deixarão dormir mais cedo - contos do torror? Missão cumprida.

Edgar Allan Poe - Contos do Terror
94 p.
Newton Compton Brasil

John Carter - Entre Dois Mundos



Ok, o que deu de errado?

No elenco, um trio parada-dura diretamente da magistral Roma, da HBO: Ciarán Hinds (o imortal Júlio César), James Purefoy (Marco Antônio) e Polly Walker (Atia dos Julii, Evil Matriarch por excelência), esta emprestando a voz para uma personagem feminina vilanesca (outra...) digital mas que, apesar de alguma relevância no livro, no filme fica completamente em segundo plano. Sob maquiagem digital estão ainda William Daefoe como Tars Tarkas e Samantha Northon como Sola, mostrando o rosto temos os vilões Dominic West (cuja carreira já valeu pelo McNulty de The Wire, outro gol de placa da HBO) e Marc Strong (Lord Blackwood do primeiro Sherlock Holmes, e ótimo vilão full-time).

Sério, um elenco desses... e tudo o que se consegue fazer é John Carter - Entre Dois Mundos? Nada contra um filme baseado neste personagem que vem da proto-ficção-científica, da mesma pena que nos deu Tarzan dos Macacos: mas algo contra este filme.

Talvez parte do prejuízo de bilheteria que a Disney amargou seja exatamente por apostarem no rosto bonito dos protagonistas, do que no talento ao redor escolhido para servir de escada para eles (coisa que dá incrivelmente certo em O Homem da Máscara de Ferro, com Gerárd Depardievski, Gabriel Byrne, John Malkovich e Jeremy Irons subalternos a... Leonardo diCaprio: mas o tempo de participação de tela é bem mais presente aqui do que os acima, isto qdo não sob maquiagem digital...).

Talvez parte seja porque, como todos os filmes acima de uma escala orçamentária, os produtores ficam nervosos e empurram fórmulas e rostos/nomes de sucesso, independente de talento ou o melhor nome para a melhor função.

Talvez parte tenha sido o fato de ser um filme da Disney, com piadinhas e bichinhos inevitáveis.

Não acho que tenha sido por qualquer purismo: a história de John Carter, e sua personalidade, estão bem modificadas, envolvendo os três primeiros livros e mais o que veio dos roteiristas. Ninguém mais sabe o que foram esses livros, não ao ponto de formar uma base de fãs irritante ou algo assim.

Eu só consigo lamentar neste filme o grande desperdício de senhores atores. Sempre ouvi falar que um diretor de animação pode dirigir um filme live action. Depois de assistir isto, tenho dúvidas. Não lembro de ter visto o desperdício de nomes assim. Não sei se porque Andrew Stanton (Wall-E) ignorou o potencial, ou o roteiro foi futucado a não mais poder, ou o quê...

No final das contas, é apenas um filme mediano. Que custou um quarto de bilhão de dólares e, mundo, arrecadou somente pouco abaixo de 283 milhões.

(Por último: de bomba em bomba, os protagonistas Taylor Kitsch e Lynn Collins também participaram de X-Men Origins: Wolverine, como Gambit e Silverfox: alguém precisa de um agente melhor).