A Mão Que Pune - 1890, por Octávio Aragão (2018)
A Mão Que Pune - 1890 é a sequência de A Mão Que Cria, que tive a oportunidade de ler e resenhar aqui. Terminei a resenha falando sobre esta sequência, desde então em desenvolvimento, com "Resta aguardar". Pois eis.
Vou me repetir um pouco, da resenha antiga: acompanho a carreira literária do amigo Octavio Aragão desde os tempos da Intempol e, como na resenha de 2011, cabe o alerta ao leitor de que isenção não é exatamente o caso aqui. Tive, ainda, o prazer de ser um dos 'leitores beta' do romance, ao longo de 2018. Ver a obra acabada foi uma grande alegria.
Ficção-Científica, ambos os livros são ainda o que se chama "Ficção Alternativa", em que personagens existentes são recontextualizados em uma nova história, nunca pretendida por seus autores originais. O grande expoente do gênero ainda são as HQs de A Liga dos Cavalheiros Extraordinários, por Alan Moore, e mais recentemente a excelente Penny Dreadful (HBO, 2014-2016) apresentou o conceito para muita gente. Na literatura, recomendo novamente Anno Dracula, cujas continuações no Brasil pelo visto vão ficar devendo. Inevitavelmente, cabe ainda localizar aqui a obra no subgênero steampunk.
AMQP é uma "prequel" de AMQC, passando-se no final do Século XIX, semeando as situações que vimos se desenrolarem no segundo livro. Assim como nele, aqui temos também um desfile de personagens históricos e fictícios interagindo entre si e protagonizando uma história de aventura e ação, intrigas e planos para dominação global.
Começa em Paris, 1890, com a narrativa pela voz do protagonista Angelo Agostini, chargista político brasileiro da vida real que foi a dor de cabeça de Dom Pedro II e dos políticos do Império, agora vivendo a tragédia pessoal da morte recente da amante e tendo seu filho recém-nascido sequestrado por partes inesperadas e terríveis.
Mas isso é tão somente o começo: são 210 páginas de aventuras aéreas, vinganças, truculências e cientistas loucos com suas versões do que é melhor para a Humanidade; um desfile histórico e fictício de personagens em situações que, como leitores, poderíamos pensar como ficaria com mais detalhes e desenvolvimento alguns trechos, explorá-los por outros vieses e com ainda mais personagens. Sob o certo aspecto, o livro funciona como um celeiro de ideias que, espero, possamos vir a ler algum dia demais desenvolvimentos.
A obra conclui com um gentil posfácio contando a gênese da obra, assim como detalhes sobre os personagens apresentados: pesquisa foi feita, em pelo menos um caso, acadêmica - Agostini foi tema de Mestrado do autor. Boa parte ali, advinda de uma extensa e prazerosa vida de leituras.
De brinde, ainda prefácio por Christopher Kastensmidt, autor do projeto A Bandeira do Elefante e da Arara, projeto lúdico envolvendo o Brasil Colônia.
Foram 12 anos entre um livro e o outro. Tempo demais, mas às vezes assim vai a vida. Cabe agora torcer para que a Caligari adote e lance A Mão Que Cria, dispondo mais essa obra de Octavio Aragão para o leitor que está chegando agora ou que perdeu a oportunidade na época.
(Esta resenha está na íntegra no jornal BrasilBest, sediado em Miami, para a colônia brasileira.)
A Mão Que Pune - 1890
210 p.
Editora Caligari