quarta-feira, 20 de março de 2019

Prêmio LeBlanc 2019

Divulgação. E aquele zumbido no primeiro dia de circo na rua. Votem, divulguem, participem.

--------------------------------------------------------

O PRÊMIO LE BLANC ESTÁ DE VOLTA

É chegada a hora de votar no II Prêmio Le Blanc. E este ano, além de premiarmos os expoentes nos campos de Histórias em Quadrinhos, Animação e Literatura Fantástica, temos uma novidade: GAMES.

Mais uma vez, a Universidade Veiga de Almeida uniu esforços à Escola de Comunicação da UFRJ para organizar e realizar o prêmio, que terá troféus para os ganhadores, distribuídos no dia 9 de Maio na Semana Internacional de Quadrinhos.

A votação será inicialmente por critério de voto popular, encerrando-se no dia 14 de Abril. Qualquer um poderá indicar suas obras favoritas do ano passado! Depois, um júri especializado analisará os finalistas e escolherá os grandes vencedores.

A #SIQ deste ano vai do dia 7 a 10 de Maio de 2019. Aguardamos vocês!

Seguem os links para votação nos comentários. Votem. Indiquem. Compartilhem.

CÉDULAS

________________________________________

Voto para Ficção especulativa/literatura fantástica: tinyurl.com/yy6v2dj9

Voto para Animação: tinyurl.com/y58y8wha

Voto para História em Quadrinhos tinyurl.com/y6tntlx5

Voto para Games: tinyurl.com/yxljdbwh

segunda-feira, 4 de março de 2019

O jornalista, o escritor e o aviador

O jornalista, o escritor e o aviador, de Aluízio Falcão Filho (2007)

Spoilers abaixo.

Essas pesquisas em prol do Fevereiro Verniano têm a vantagem - como toda a pesquisa - de nos revelar coisas legais tangentes ao objeto de estudo - por vezes, mesmo desvirtuando um pouco da pesquisa em si... e, claro, haja foco.

Juntando com outro interesse meu, vim a descobrir este livro, O jornalista, o escritor e o aviador, de Aluizio Falcão Filho. Não é a primeira vez que esbarro em um livro tendo Santos-Dumont como personagem: a autora (diretora, atriz e dramaturga) Karen Accioly escreveu "Os Meus Balões" (título de um livro de Dumont) como opereta infantil e a recontou em forma de livro, sobre encontros de Verne e Dumont (que uma sinopse diz não terem ocorrido). "Santos-Dumont Número 8 - Um grande mistério será revelado...", de Claudio Soares (Universo dos Livros, 2008) assume o tom 'segredo revelado do passado', à maneira deste de agora, para explorar o ano de 1908 em reclusão de Dumont, em que ele nunca executou nenhum de seus projetos, por crer que '8' dava azar.

Em "O jornalista...", temos um protagonista jornalista (qual o autor) que, após um inesperado enriquecimento, resolve se dedicar a um projeto próprio, investigando o provável relacionamento entre Santos-Dumont e Júlio Verne. Na vida real, é incerto se os dois se conheceram pessoalmente: mas tanto Dumont era apaixonado por seus livros quando jovem quanto Verne ao morrer já admirava os esforços de Dumont - pelo que conta Paul Hoffman em seu excelente Asas da Loucura e que é parte da bibliografia da obra, conforme correlação ao final.

E o que ele descobre é motivo de conspirações, experimentos proibidos, envolvimento com terroristas e algumas reviravoltas. O livro se dá de maneira ágil e divertida, e recomendo como bom passa-tempo, ainda levando em conta questões da vida pessoal do protagonista, praticamente o único personagem desenvolvido na história. Tudo isto é desenvolvido em três "vozes": duas no presente, com o ponto de vista do protagonista quanto narrador onisciente; e o p.d.v. que realmente achei interessante no livro: narrativas passadas durante a vida de Dumont e seu envolvimento com Verne, as ideias que tiveram, e o que se passa por trás de seu suicídio em 1932. Figuras históricas dão o ar da graça aqui e ali nesses trechos, além de um misterioso personagem que, aparentemente, surge em ambos os períodos - e está bom de spoilers por aqui.

Pessoalmente, preferia ter visto os vilões desenvolvidos de uma maneira melhor. Achei que algumas reviravoltas e motivações não exatamente funcionam, e sendo de 2007, ainda pegou o mote do terror islâmico radical. Talvez na época fosse o bastante para impulsionar a história, mas passado já certo tempo, talvez se precise mais hoje em dia.

O jornalista, o escritor e o aviador
368 p.
Editora Clio

domingo, 3 de março de 2019

História de sua vida e outros contos

História de sua vida e outros contos, por Ted Chiang (2002)

História de sua vida e outros contos é a coletânea do autor norte-americano Ted Chiang lançada no Brasil em 2016 pela ed. Intrínseca, acompanhando o lançamento 14 dias depois nos cinemas do ótimo A Chegada, filme que se inspira no conto título do livro.

Não conhecia o autor, até esta coletânea, cujo interesse, claro, veio do filme. Achei a prosa não raro analítica e fria, mesmo no uso da primeira pessoa, como em Entenda! (claro, vemos que aqui é totalmente justificável), o que curiosamente não quer dizer que suas histórias não envolvam.

A Torre da Babilônia nos leva a uma versão mágica da mesma, seguindo uma premissa do Antigo Testamento sobre a Torre de Babel: e se ela alcançasse o céu, em desafio a Javé? Sabe-se que os babilônios nunca pretenderam isto, na verdade a torre - o zigurate do templo dedicado ao deus-mor Marduk - erguia-se para que os deuses descessem do céu à terra, mas, como indica o destino da torre no Livro do Gênese, algo se perdeu na tradução.

O resultado é uma viagem com imagens poderosas, de uma construção que passa séculos sendo construída, até que efetivamente toca a abóbada celeste, após passar por um céu ptolomaico e a ordem de suas esferas celestes, e com um final... revelador, por assim dizer.

Entenda! é uma história sobre super-inteligência em que acompanhamos, em primeira pessoa, o desenvolvimento galopante do intelecto de um homem para níveis bem acima da norma. Achei muitíssimo semelhante a Sem Limites, filme de 2011 (que gerou uma série em 2015, infelizmente já cancelada), embora haja aqui um senso de Transcendência e Revelação - não no sentido espiritual - que o filme não se aproxima (coisa que o filme Lucy, de Luc-Besson, trabalha), especialmente no trecho final. A inteligência na ficção-científica já rendeu ótimas histórias, e essa é uma delas.

Divisão por Zero é um conto curto, desenvolvendo uma questão teórica de matemática e apresentando os princípios por trás, o que não é para todos os públicos, em paralelo ocorrendo o relacionamento da cientista que chega a conclusões que lhe soam pessoalmente apocalípticas. É um conto curto, com uma conclusão em aberto, e a sombra de que não será agradável para os envolvidos.

A história de sua vida rendeu, como já dito, o filme A Chegada, e vemos que como adaptação funciona muito bem, por mais liberdades que o roteiro tome: o conto consegue ainda ser mais críptico do que o filme, debulhando detalhes sobre como uma raça realmente alienígena poderia se comunicar. Como um conto de FC que explana em detalhes como funciona a propulsão hiperespacial ou a máquina de viajar no Tempo, aqui ele se desdobra sobre como a lógica de uma linguagem alienígena pode acontecer, e o que fazer para compreendê-la.

O filme ainda mantém a ideia original: se, como é dito, idiomas reprogramam o cérebro de maneira particular, como um idioma alienígena influenciaria o cérebro humano em sua forma de pensar e perceber?

72 Letras propõe uma Inglaterra Vitoriana onde a magia é conhecida amplamente,  e o sistema mágico é derivado da lenda do Golem, onde um ser de barro era animado após se inscrever uma palavra em hebraico em um papel e inseri-la na boca do ser. Revolução Industrial, política e classismo ingleses se juntam a uma trama de uma proposta riquíssima onde, novamente, a construção de linguagem é a peça-chave por trás de tudo.

A Evolução da Ciência Humana tem o tom de um artigo, e é um take sutil no tema do transhumanismo. É o mais curto do livro.

O Inferno é a ausência de Deus fala sobre o que aconteceria se a fé não dependesse mais do mistério, sendo manifestações de Céu e Inferno atestáveis, e como ficaria a devoção mediante ao que se passa a experimentar.

Gostando do que vê: um documentário lembra uma narrativa epistolar, mas em vez de cartas, sendo em depoimentos colhidos para o documentário do título. A história se passa durante um engajamento universitário americano sobre um método reversão de indução de "caliagnose", uma lesão cerebral que corta nossa capacidade de apreciar um rosto por sua beleza física, escapando assim à ditadura dos padrões comerciais da moda e possibilitando pessoas a apreciarem umas às outras pela dita beleza interior, conteúdo, etc. Os depoimentos variam entre pós, contras e nem tanto um como no outro, interesses comerciais por parte da indústria de cosméticos, e etc. Propõe mais encontrar pontos de vista a respeito da questão do que declará-la assim ou assado, então a encerrando. Tal qual como no conto anterior, a ideia de uma solução direta para um problema não necessariamente é algo simples e benéfico.

Depois dos contos, há um posfácio com a palavra do autor contando um pouco da origem dos contos e suas ideias ao leitor.

Achei curioso como a necessidade de uma nova linguagem, ou o reimaginar da linguagem, é tema em quase todos os contos da coletânea. Sem dúvida Ficção-Científica excelente, daquelas que põem para pensar. Bola muito dentro da editora Intrínseca. Recomendadíssimo.

História de sua vida e outros contos
368 p.
Ed. Intrínseca