Bartolomeu, de Victor Moura. Editora Caligari (2018)
Bartolomeu é a graphic novel do quadrinista Victor Moura, e conta uma história de gente normal, gente que queria ser normal, gente nada normal e o fim do mundo - senão, quase.
O personagem-título é assombrado desde criança por coisas assustadoras que só ele vê, e dá um jeito de viver bem com isso, na medida do possível. Depois de crescido, sabe sobre o que tudo se passa com ele, e reluta trilhar o caminho que dele se espera, preferindo a simples e limitada existência meramente humana. Obviamente que isso não pode ser possível.
Já vimos essa história? Já, e algumas vezes. Assim como das melhores vezes, Bartolomeu é muito bem feito. Em resumo, é como John Constantine fosse desenhado por Mike Mignola (Hellboy), vivesse na Lapa, Rio de Janeiro, entre bares de segunda onde toca violão e uma oficina de carros onde tira seu sustento - e tomando corrida de Coisas Que o Homem Não Deve Conhecer entre uma viela sombria e outra.
A afirmação de que "todos têm demônios interiores" ganha novos contornos aqui, gostosamente literais. Os demônios de Bartolomeu não apenas torturam e assombram, mas por vezes são torturados por aquilo que um dia foram e agora são, assombrados por uma realidade que não dominam nem nunca dominaram, estando a mercê de forças maiores do que eles - tem sempre um tubarão maior nessa praia.
A arte, em preto-e-branco, expressa e impressiona, pintando uma cena urbana insegura, onde nunca se sabe o que vai se encontrar após a próxima esquina. A escolha do autor de deliberadamente desenhar olhos de íris ou pupila novamente acerta o alvo, trazendo uma pequena dose de inquietude ao se ler.
Outro gol da pequena editora Caligari, que também acertou muito bem com Teocrasília, já resenhada. Não foi à toa que, no último 9 de Maio, quinta-feira, Bartolomeu ganhou o Prêmio LeBlanc de Melhor HQ Nacional Publicada por Editora. Devidamente merecido, e espero que venha mais.
Faixa-bônus: eis o canal de Bartolomeu no youtube, com trilhas compostas para o personagem e a HQ.
Bartolomeu
116 p.
Editora Caligari