Domingo amanhã, 26/09/21, às 16h, participarei de uma live sobre Duna organizado pelo Clube de Leitura Zona Oeste, aproveitando o mote da estreia da refilmagem recente.
Desencavei minha velha cópia da ed. Nova Fronteira e reli nos últimos dias, após longos anos sem revê-lo. Reler com olhos de quem, hoje em dia, procura escrever se revelou uma grata surpresa.
Mais comentários depois de amanhã. Para quem quiser assistir, eis o link.
Duna, em edição de 1984 da ed. Nova Fronteira. Por Frank Herbert.
EDIT
Em vez de gerar mais um post, preferi ampliar este, uma espécie de resenha tardia (com spoilers) de Duna.
Como eu disse, grata surpresa ao reler depois de sei lá quanto tempo. Mais cedo neste ano ou em 2020 eu tentei, mas sem sucesso. Dessa vez fui até o final, e ainda no gás embiquei em O Messias de Duna, que deixarei pra um próximo post.
Na live eu digo tudo o que talvez tivesse a dizer aqui: há quem saliente que nunca se lê (relê) o mesmo liveo duas vezes, indicando a maturidade do leitor e seus momentos diferentes de vida.
No meu caso, havendo entre lá e cá iniciado uma modesta carreira de autor, prestei atenção no texto que, de outra forma, talvez não tivesse.
Identifiquei trechos que me lembrava, que mais ou menos me lembrava, e passagens que para mim foram completamente inéditas.
Foi muito bacana rever - ou ver - a construção das tramas, e os raciocínios que levarão Paul Atreides a ser o messias da Humanidade: não somente o plano das Bene Gesserit estava para acontecer, mas a força das circunstâncias leva Lady Jessica, sua mãe, a ativar "protocolos de emergência" psico-culturais, deixados pelas BG, que levam a uma população supersticiosa a acolhê-los como figuras profetizadas; e ainda sem que ninguém mais soubesse, paiava a promessa lançada pelo primeiro Planetólogo Imperial local para, junto à mesma população, trabalhar em um método para transformar o escaldante planeta desértico Arrakis em um paraíso ecológico nos séculos que viriam.
Duna é a primeira grande obra da new wave/'soft science fiction' abordando religião, política, cultura e ecologia como temas centrais, e não meras curiosidades secundárias, sendo da mesma geração que trouxe autores como Michael Moorcock, Ursula K. Le Guin e Philip K. Dick às prateleiras.
Seu worldbuilding impressiona, sendo também central à trama, conferindo ao planeta Arrakis toda uma identidade própria e senso de pertencimento dos personagens, sem o qual a proposta oferecida por um autor pode enfraquecer. O feito deixa Duna considerado também como tendo o primeiro grande worldbuilding da ficção científica, comparável ao da Terra-Média de Tolkien, do lado da fantasia.
Ao longo de suas 669 páginas dividas em três livros internos (mais apêndices), entretanto, senti que certos personagens apresentados ficaram "de menos" em seu desenvolvimento e potencial, tamanha a carga de informação - e não estou falando de nenhum infodump, percebam - que o livro apresenta. Não é um livro perfeito, mas não quer dizer que seja um livro ruim, longe, bem longe disso. O fã de ficção científica deve sempre dar uma chance para ler - quando não, reler - Duna.
Agora é esperar para ver o novo filme que, segundo soube, será divido em duas partes. Imagino que seja o certo a fazer, pois, como foi dito, são 669 páginas de muita informação que deixou o filme de 1984, de David Lynch, como problemático, para se dizer o mínimo.
Por último, cabe notar que Frank Herbert escreveu meia dúzia de livros a partir do primeiro, em sua carreira como escritor de ficção científica. Seu filho Brian e o escritor Kevin J. Anderson ainda expandiram o universo bem além, com base nas anotações do pai. No Brasil, que eu saiba apenas os livros do pai foram publicados. Uma página da wiki sobre a franquia de Duna aqui, para quem se interessar. Devo ler os primeiros livros em breve comentar por aqui, a futuro.
Duna
669 p.
Editora Nova Fronteira (para fins desta resenha. Edições atuais pela ed. Aleph)