A Fábula do Príncipe Narseu, 2019
De tempos em tempos, surge um livro singular em nossas vidas. Na minha, creio que A Fábula do Príncipe Narseu, de Paulo Gravina, é um desses. Em sua apresentação, abre com uma dedicatória "àqueles para quem os desgostos do mundo não derrotaram a capacidade de fabular".
É bastante fácil defini-lo: uma fantasia infanto-juvenil, dentro da jornada do herói, envolvendo terras estranhas e gentes de colorido próprio, um bastardo que irá salvar a princesa e o reino.
Ao mesmo tempo, não é tão fácil seguir apenas por aí: mesmo com influências identificáveis em folclore europeu, ele é um livro singular, investindo na singularidade de povos, lugares e mesmo cosmologia e sistema de magia, alfabeto e sistema numérico - o worldbuilding é caprichado, e apresentado de forma a não atrapalhar a narrativa, mas enriquecer.
A linguagem é simples apresentando um rebuscado aqui ou ali, na medida de uma certa estranheza - com Mestrado em Letras, o autor conscientemente buscou essa junção, tudo para o construir de uma fábula - ou assim passa essa impressão - ao mesmo tempo que o passo da história é curto, sem se detalhar, mas também não deixando uma impressão de deixar a dever algo... fora saber de mais histórias, em um mundo tão detalhado que, ao mesmo tempo, é tão somente sugerido.
Acompanha a narrativa as belas imagens em p&b da artista Luci Villanova, com direito a um mapa, que ajuda a apresentar o mundo e as ideias, margeando letras e apresentando sonhos - é de sua pena, também, logo no início, o mapa de Trissena, 'a estrela nova', para nos ajudar a viajar.
A Fábula do Príncipe Narseu é um livro que, nos dias de hoje, entre a taquicardia das sensações e obtusa objetividade oferecida e cobrada, talvez ouse ser uma fábula.
E fabular - sempre - é preciso.
A Fábula do Príncipe Narseu
70 p.
Editora Cândido (selo Candinho)
Um comentário:
Grata por suas palavras. Realmente, esse é um livro singular! Muito feliz em fazer parte dele.
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