sábado, 3 de abril de 2021

Aniquilação

Capa da edição brasileira de Aniquilação.

Aniquilação (2014), de Jeff Vandermeer, é o primeiro de sua trilogia (ainda composta de Autoridade e Aceitação, já foram publicadas no Brasil pela mesma editora), que conta sobre a "Área X", uma região do território norte-americano desabitada sob influência alienígena, mudando fauna e flora. 

As quatro personagens são a 12a. expedição para este território, sob o comando de uma agência governamental conhecida apenas como "Comando Sul". Não há nomes, mas cada uma é chamada pela sua profissão, pela qual foram escolhidas para compor esta empreitada.

A prosa é densa e minuciosa em seus detalhes, enquanto a narradora-protagonista e suas colegas se aventuram na região, com amplas descrições do mundo natural pelos olhos dela, logo a bióloga, portanto mais apta a descrever a vida selvagem do lugar. O desenvolvimento da personagem, seu passado e presente, e suas tensões e questões próprias, resolvíveis ou insolúveis, são apresentadas, construindo uma personagem bem interessante.

É uma obra lovecraftiana, com direito a horror cósmico e o indizível em suas extensas descrições - que para mim soaram inovadoras, entretanto, fazendo uso criativo de sinestesia -, trazidas até nós por uma narrativa em primeira pessoa deixada em um diário. Impossível, dado ponto, não lembrar de A Cor que Veio do Espaço (1927), que, aliás, ganhou filme em 2019.

Trailer do filme de 2018, com Natalie Portman. Netflix

Como toda boa obra lovecraftiana, não há real explicação para o indizível - mas não deixa de ocorrer uma ou duas respostas para a narradora-protagonista, dando-lhe a possibilidade de encontrar termos com o marido desaparecido, e tudo aquilo que faltou dizer durante os anos de um casamento que se encontrava no final, quando ele partiu na expedição anterior à Área X: em meio a tanta dissolução orgânica e pessoal, algumas certezas nos bastarão - e isso não é a indicação de um final feliz, percebam.

Recomendo.

Aniquilação - Livro 1 da Trilogia Comando Sul

200 p.

Ed. Intrínseca

8 comentários:

Daniel Braga disse...

Grande livro que merecia ser mais lido. Parabéns pela resenha.

Luiz Felipe Vasques disse...

Opa, obrigadíssimo!

Lu Evans disse...

Pode ser lido como stand-alone ou fica claro que a historia tem continuacao?

Lu Evans disse...

Pode ser lido como stand-alone ou fica claro que a historia tem continuacao?

Luiz Felipe Vasques disse...

Lu, eu acho que dá pra ler sem se preocupar com continuações, na vdd. Tudo se acabando pelo mistério em si.

Rodrigo disse...

A trilogia é excelente. Eu achei uma leitura mais difícil do que o normal, e se me recordo corretamente, a narrativa não é lá muito linear.

Para quem gosta de mistérios que se aprofundam a cada página, a saga de ghost bird é bem legal. Boa parte do tempo, fiquei com um wtf? na cabeça.

Já o filme com Natalie Portman eu não recomendo. A história é difícil de ser transposta para as telas, e a adaptação mostra claros sinais disso.

Luiz Felipe Vasques disse...

Rodrigo, bom saber. Até pq tinha lido que as continuações ficam meio nhééé... mas a prosa do Vandermeer tb não é das mais fáceis, mesmo em inglês.

Rodrigo disse...

Pois é, li em inglês e teve hora em que tinha que reler o parágrafo pra entender.

Não vi problema nas continuações, exceto talvez uma redução de velocidade e mais dispersão devido a entrada de outros personagens.

Mas reconheço que minha impressão pode estar turva pela curiosidade que eu tinha em relação ao farol, e à surrealidade do enredo. A prosa diferente e a originalidade da trama me cativaram.

Mas não tenho vontade de ler de novo ;-)