terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Avatar


Assisti no último fim de semana.

A história é manjadinha, nada que Pocahontas ou Dança com os Lobos já não tenham contado (aliás, chega a roçar até em Distrito 9): é o processo de transformação de um invasor que entra em contato com povo local, deixa-se levar por seus modos e costumes, ao ponto que chega a se indispor contra a sua cultura original, quando o inevitável conflito ocorre.

Manjadinha, como já disse. Mas se não renova, também não compromete.

O que interessa em Avatar, também, convenhamos, não é a história. E o que nele interessa, papagaio. To say the very least.

Não foi apenas criar uma raça alienígena. Foi criar um ecossistema inteiro. Eu levei algum tempo até perceber - porque me chamaram a atenção - que eu estava de boca aberta.

Ooooh, parte 15.

Chapei por duas horas e tanto. O filme é absurdamente bonito. Ainda por cima assisti em uma sala 3D, experiência que me deixa os olhos ardendo, o que acabei tendo que me lembrar tarde demais. Mas não interessa. Desde que meus globos oculares não caiam ou minha retina não descole, valeu cada minuto.

Bom rever Sigourney Weaver, cuja primeira cena foi saindo de um 'tubo'. Tive que rir. É uma espécie de habitat natural dela, cada vez que faz ficção-científica, especialmente a série Alien. Ela estava em Aliens - o Resgate, do mesmo James Cameron de agora, foi bom ver isto, e imaginar como foram as relações de velhos conhecidos nos bastidores. Do James Cameron, que é um dos diretores que parece mais à vontade filmando hardware do que gente de carne e osso - bem, digamos que ele chegou a um meio-termo. :) Achei um Cameron bastante disneyano, se compararmos justamente com seu outro filme pesado em militaria e alienígenas. Ok, a intenção não era e nunca foi fazer uma variante do filme de 86.

Thundercats, hooo!

A intenção era embasbacar.

Isso, eles conseguiram. Efeitos digitais pela Weta, a mesma de King Kong e O Senhor dos Anéis, e talvez uma liberdade criativa no campo visual como desde a segunda trilogia de Guerra nas Estrelas.

Como ficção-científica, a coisa mais interessante do ecossistema de Pandora é que boa parte das criaturas parecem vir com seu próprio cabo USB: isso torna a conexão/conectividade dos nativos com o que têm por sua divindade algo real e químico, aliás o jogo de 'depende' da natureza nesse mundo tem uma consistência mais física, direta, do que a física e observada, o que deixa o mundo como uma espécie de Grande Rede. E indo ainda além do fato biológico em si, o imaginário dos nativos - com elementos vistos aqui na Terra de povos indígenas, tais como o contato com os ancestrais e o respeito à presa abatida - tem um respaldo material e de causa-e-consequência mesuráveis.

Fico pensando, ainda, se já não estamos mais falando de um filme como, por exemplo, Cidade de Deus, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa ou mesmo Caçadores da Arca Perdida. Há filmes dentro do razoável, e há circos como Avatar, O Senhor dos Anéis, a trilogia de Matrix, o novo Guerra nas Estrelas... grandiloquências onde orquestrar o orçamento e as milhares de pessoas - dá a impressão que seriam suficientes para povoar uma pequena cidade - envolvidas para um único propósito coerente me parece algo diferente demais para ser confundido, meramente por passar em um filme e na tela grande.

Para não dizer, como fica a experiência de interpretar, tendo que imaginar o que ocorre ao seu redor, convencer-se disto para convencer a audiência.

Enfim, sensacional. Um dia, faço fé, acertam na história.

4 comentários:

Unknown disse...

Gostei bastante do filme e, clichês à parte, não há como negar que as duas horas e tanto são um colírio para os olhos.

Há certas nuances que vão passar totalmente despercebidas para o grande público, e mesmo o filme se sustentando nos efeitos e na história manjada, eu até arriscaria apontá-lo como um dos melhores dessa nova safra.

Se não reinventou a roda, pelo menos não decepcionou.

Luiz Felipe Vasques disse...

É o mínimo do que poderia se esperar duma produção de 400 milhões de dólares: uma história que não derrapasse. Conseguiu, e flui muito bem.

Jacques disse...

Avatar é o típico filme que separa os cinéfilos de verdade dos criticadores sem noção que babam pelo visual.
A história é um lixo, de dar sono mesmo, com o velho clichê do salvador da humanidade que já encheu faz tempo.
Filme pra quem é viciado em Play 3.
Até mais.

Luiz Felipe Vasques disse...

Você não deixa de ter uma certa razão, Jacques. :) Acho que mais e mais o público-alvo são os jogadores de vgames... embora as histórias apresentadas nos PS da vida estejam bem mais interessantes do que as no cinema.