sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Cidade e as Estrelas


A Cidade e as Estrelas (1956), por Arthur C. Clarke

Spoilers zone ahead.

Reli, após uns quinze anos ou mais, A Cidade e as Estrelas (em edição de 1979 da Ed. Nova Fronteira), de Arthur C. Clarke. Bom ver que muito do que eu havia admirado ainda está lá. Entretanto, confesso que não foi a leitura fácil que eu acreditava ser. Tantos anos depois, alguns trechos me soaram meio chatos, fora uma certa datação do texto em si (ou terá sido da tradução?), não necessariamente das idéias apresentadas.

Curiosamente, procurando material para estes comentários, eu me deparei com este artigo na wikipedia que conta que The City and the Stars é a reescrita do mesmo autor de Against the Fall of the Night, que eu não conhecia. Apesar das muitas mudanças, a primeira versão nunca deixou de cair no gosto dos fãs.

A história é passada em alguns bilhões de anos no futuro, e nos apresenta Diaspar, a última cidade da raça Humana, fisicamente bastante similar tudo considerado, um modelo de ambiente de perfeição auto-sustentada. Diaspar é totalmente - salvo por túneis de ventilação - isolada do mundo ao redor, do qual só um imenso deserto pode ser visto, protegida por um enorme domo opaco. Dentro, o conforto material e intelectual dos estáveis dez milhões de habitantes vem sido mantido com perfeição pelas máquinas criadas há tanto tempo, especialmente pelo Computador Central - e como em toda a utopia, sempre tem um chato.

E ele é Alvin, que nunca não se satisfaz com tudo dado de mão aberta em Diaspar: desde cedo, ele quer ir além de suas fronteiras, mesmo que o que demonstra existir do lado de fora não seja exatamente encorajador.

Entra em cena Khedron, o Bufão de Diaspar, sempre disposto a agitar um pouco da ordem pública da cidade, dando a Alvin ferramentas para ir adiante com sua inusitada e preocupante mania. No que resulta disso, nem Khedron consegue enfrentar.

Ocorre que um bilhão de anos de Diaspar são montados em premissas falsas, que começam a cair quando Alvin descobre uma outra cidade, bastante diferente de Diaspar, Lys (que é mais uma região com diversas vilas), situada bem além do deserto ao redor de sua cidade.

A sociedade em Lys é bastante diferente da projetada em Diaspar. Lys não só conhece a presença de Diaspar, como a monitora. Em Lys, as pessoas levam um modo de vida voltado ao cultivo do solo (há uma natureza exuberante naquele terreno), com alguma vantagem tecnológica: mas são todos hábeis telepatas, fruto do planejamento genético e evolução após um bilhão de anos, sendo ainda grandes geneticistas e biólogos; enquanto que em Diaspar vivem dez milhões de diletantes ("todos são artistas"), dependendo inteiramente de máquinas para o que for. Os habitantes de Lys nascem e morrem em cerca de dois séculos, os de Diaspar são gerados já crescidos pelo Computador Central e tutorados por casais dispostos a ajudar nos primeiros vinte anos, para ajuste social e enquanto suas memórias não florescem - é como se já nascessem sabendo, resultado de inúmeras vidas com circuitos de memória armazenados após mil anos por vida, quando em geral decidem que já "está bom" e têm os corpos desmanchados pelo sistema da cidade. Sim: sexo, somente, para recreação. Utopia, pois. O critério de reinserção dos que já morreram na sociedade é de acordo com uma estatística de perfil de compatibilidade.

É óbvio que ambas as sociedades estão em isolamento e estagnação, devido a um grande temor do passado, e que precisam romper isto: a arcadiana Lys e a tecnológica Diaspar.

Há uma forte semelhança entre Alvin e Neo, da - por enquanto - trilogia The Matrix: ambos vêm de uma última cidade do Homem, criada por temor a um inimigo externo. E, principalmente: ambos são variações únicas de seus respectivos meios criadas pela máquina de tempos em tempos para testar o sistema, e levar tudo e todos a um novo patamar.

Para retratar o quão longe o ser Humano foi, Clarke abusa dos números: as estimativas mais modestas são na casa de mil anos. Seres e eventos de milênios, milhões e bilhões de anos perambulam pela história - grandiosidade que faz parte do sense of wonder que o autor é um mestre.

No final, A Cidade e as Estrelas acaba sendo uma história sobre eternidade - uma que mostra que nada dura para sempre.

244 p.
Editora Nova Fronteira

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Éden 4 e Outras Histórias Fantásticas

Éden 4 e Outras Histórias Fantásticas

Éden 4 e Outras Histórias Fantásticas (2001), de Alexandre Raposo, é uma coletânea de histórias que variam entre ficção-científica e as que têm certo tom de estranheza, lembrando às vezes o que vi de Richard Matheson, embora uma certa virulência deste falte em Raposo. Claro, a idéia não é uma comparação frontal.

Buscando um sense of wonder em alguns contos, Raposo despeja informação e números, é bom pelo menos ver - ou sentir... - que alguma pesquisa foi feita. Entretanto, os textos às vezes me soam no limite do prolixo, mas não compromete, de fato, a leitura. E sim, o sense funciona.

Há uma certa dose comedida de bom-humor (sombrio no mínimo, senão negro), que às vezes deixa a narrativa mais leve, ou simplesmente mais estranha, que funciona para a história em questão.

No geral, os contos são interessantes, a destacar:

A Caixa de Pandora e Éden 4 são as que talvez mais se "comprometam em ser" ficção-científica. A Caixa... nos traz uma das sondas Voyager e seu famoso disco de ouro, com informações sobre a cultura humana, como o centro motriz de uma civilização que a encontra, bilhões de anos no futuro. A história desta raça é contada em retrospecto, e seu empenho em encontrar os seres Humanos. Não escapa da tentação de revelar surpresas no último momento possível (como também no conto A Onda), mas ao menos não se tornou o clichê que eu receava que fosse.

De Olhos Bem Abertos, referência óbvia ao penúltimo filme de Stanley Kubrick, embora a história nada tenha a ver, daria um bom roteiro, envolvendo crime e parapsicologia. Tem um belo final.

Entrevista com um Alienígena usa como base exogênese e, se entendi, xamanismo. É bem interessante, e de forma similar ao A Caixa de Pandora, os Bilhões e Bilhões estão aí, perfilando, para a nossa consideração.

Ambulante ("senhoras e senhores passageiros, eu poderia estar roubando, mas estou aqui...") é uma piada, da qual já ouvi se tornando realidade: ninguém pode dizer que eles não tentam. Não tem nada de literatura fantástica, mas também não precisa.

A Cerveja em Três Tempos também é bastante divertida, fala de cerveja, agruras e soluções através da História.

Justiça é o conto mais sombrio de todos, uma história sobre vingança, que não se espera ouvir enquanto seu bar favorito está fechando. Ou talvez sim.

Éden 4, a história-título, fecha o volume e é sobre um astronauta que retorna à Terra e à consciência duas vezes no futuro distante e mais distante ainda, primeiramente em uma espécie de distopia feminista e depois, para uma nova chance para a Humanidade como um todo, em um final que remonta antigos inícios.

Particularmente fracos eu achei A Onda, Ano-bom e Succubus.

Boa e - sim - rápida leitura, concluí em poucas horas.

Éden 4 e Outras Histórias
240 p.
Editora Record

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Duna no Escrevinhamentos

Excelente resenha sobre o clássico Duna, de Frank Herbert, pelo meu prezadíssimo Victor Barone em seu Escrevinhamentos.