segunda-feira, 4 de março de 2019

O jornalista, o escritor e o aviador

O jornalista, o escritor e o aviador, de Aluízio Falcão Filho (2007)

Spoilers abaixo.

Essas pesquisas em prol do Fevereiro Verniano têm a vantagem - como toda a pesquisa - de nos revelar coisas legais tangentes ao objeto de estudo - por vezes, mesmo desvirtuando um pouco da pesquisa em si... e, claro, haja foco.

Juntando com outro interesse meu, vim a descobrir este livro, O jornalista, o escritor e o aviador, de Aluizio Falcão Filho. Não é a primeira vez que esbarro em um livro tendo Santos-Dumont como personagem: a autora (diretora, atriz e dramaturga) Karen Accioly escreveu "Os Meus Balões" (título de um livro de Dumont) como opereta infantil e a recontou em forma de livro, sobre encontros de Verne e Dumont (que uma sinopse diz não terem ocorrido). "Santos-Dumont Número 8 - Um grande mistério será revelado...", de Claudio Soares (Universo dos Livros, 2008) assume o tom 'segredo revelado do passado', à maneira deste de agora, para explorar o ano de 1908 em reclusão de Dumont, em que ele nunca executou nenhum de seus projetos, por crer que '8' dava azar.

Em "O jornalista...", temos um protagonista jornalista (qual o autor) que, após um inesperado enriquecimento, resolve se dedicar a um projeto próprio, investigando o provável relacionamento entre Santos-Dumont e Júlio Verne. Na vida real, é incerto se os dois se conheceram pessoalmente: mas tanto Dumont era apaixonado por seus livros quando jovem quanto Verne ao morrer já admirava os esforços de Dumont - pelo que conta Paul Hoffman em seu excelente Asas da Loucura e que é parte da bibliografia da obra, conforme correlação ao final.

E o que ele descobre é motivo de conspirações, experimentos proibidos, envolvimento com terroristas e algumas reviravoltas. O livro se dá de maneira ágil e divertida, e recomendo como bom passa-tempo, ainda levando em conta questões da vida pessoal do protagonista, praticamente o único personagem desenvolvido na história. Tudo isto é desenvolvido em três "vozes": duas no presente, com o ponto de vista do protagonista quanto narrador onisciente; e o p.d.v. que realmente achei interessante no livro: narrativas passadas durante a vida de Dumont e seu envolvimento com Verne, as ideias que tiveram, e o que se passa por trás de seu suicídio em 1932. Figuras históricas dão o ar da graça aqui e ali nesses trechos, além de um misterioso personagem que, aparentemente, surge em ambos os períodos - e está bom de spoilers por aqui.

Pessoalmente, preferia ter visto os vilões desenvolvidos de uma maneira melhor. Achei que algumas reviravoltas e motivações não exatamente funcionam, e sendo de 2007, ainda pegou o mote do terror islâmico radical. Talvez na época fosse o bastante para impulsionar a história, mas passado já certo tempo, talvez se precise mais hoje em dia.

O jornalista, o escritor e o aviador
368 p.
Editora Clio

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