Assisti no último fim de semana, gostei do que vi. Pelo tema, podemos nos lembrar muito de Missão Alien, que até virou uma série de tv, e tem momentos que lembra muito A Mosca.
O filme (com um site maneiríssimo) é rodado em estilo documentário, alternando para câmeras de segurança, para dar a sensação de realidade, ainda que em certos momentos passe para a narrativa de um filme convencional sem maiores demarcações entre um estilo e outro. Eu não tive problemas com isso, mas ouvi gente que se incomodou.
Como em Missão Alien, uma grande nave alienígena chega, sem aviso algum, nos dias de hoje/futuro beeem próximo, com uma tripulação de refugiados. Aqui, passados alguns anos desde sua chegada, os alienígenas estão integrados à sociedade, ainda que pairem sempre problemas racistas (o filme é um grande tratamento sobre a questão dos imigrantes nos EUA, nos dias de hoje do fim da década de 80). Em D9, a questão do racismo é exarcebada ao extremo.
Apostando na palavra alienígena, os aliens de D9 são humanóides (cabeça, tronco, membros), mas não são antropomórficos como em Missão Alien (sim, eu sei: efeitos especiais de agora e de então, verba, e qualquer outro etc.), tendo um visual insetóide (o apelido pejorativo era prawn, camarão) que causa uma certa repulsa visual, e um comportamento nervoso aos nossos olhos que, decerto dificultaria a empatia e a comunicação em um caso real. Nojeiras orgânicas pululam no filme, aumentando a sensação de querer vê-los pelas costas o quanto antes.
Em Missão Alien, é dito que os visitantes são ex-escravos fugidos de alguma força galáxia afora, e são essencialmente trabalhadores pesados, ainda que se destaquem, para padrões humanos, também em algumas faculdades mentais (há toda uma reclamação sobre como os alienígenas estão tomando nossos empregos, no filme antigo). Em D9 também, mas há um comentário sobre como eles parecem carecer de uma força de vontade maior, o que seria o motivo pelo qual eles não se integrariam à sociedade, ou porque adotam um comportamento quase mendicante, sempre revirando lixões. O acampamento inicial, para onde os alienígenas haviam sido transportados, após serem descobertos em sua nave estando extremamente doentes, vira uma autêntica favela, com problemas de saúde e criminalidade.
O fio condutor é a transformação, forçada, do ponto de vista do protagonista, o encarregado de executar o despejo da favela para um outro distrito da cidade (nenhuma outra que Johannesburgo) mais "urbanizado" - na verdade, há uma grande procura por artefato alienígenas entre todo aquele lixo. O protagonista, a quem se quer matar por 90% do filme, é quase um estereótipo, mas eu acho que funciona: um burocrata sem maiores brilhos, completamente insensível aos alienígenas, adepto de qualquer pensamento racista que possa aparecer, covarde, oportunista e burro. Muito burro.
O filme, aliás, aproveita-se de alguns tratamentos do caráter de seres humanos que programas como Quinta Dimensão e similares já dispensaram: dado a oportunidade de discriminar, todos os seres Humanos são iguais, independente de cor. Sem querer entregar maiores detalhes do filme, é só comparar como brancos e negros, à sua maneira, querem o poder dos alienígenas, por assim dizer, e farão qualquer coisa - qualquer coisa - para obtê-lo (destaque para o uso de companhias mercenárias privadas, alusão à Blackwater, utilizada por companhias americanas no Iraque a título de segurança).
É um filme de baixo orçamento, produzido por Peter Jackson, o diretor da trilogia de O Senhor dos Anéis. O diretor é Neil Blomkamp, com poucos filmes no currículo, assim como os atores principais. Achei que valeu à pena assistir, apesar de um ou outro detalhe que estranhei mas que não acho que comprometa o resultado geral. Espero que mais boas obras de Blomkamp venham.
Adendo de 10 de Novembro: uma opinião bem-embasada sobre o filme do meu prezadíssimo Lucio Manfredi, roteirista e escritor, pode ser encontrada aqui.
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