sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A Sorte dos Girinos


A Sorte dos Girinos
(Quartet, 1999), de Carlos Eugênio Baptista - o meu prezadíssimo Patati - é seu romance de estréia. Patati é mais conhecido por ser roteirista de história em quadrinhos, e profundo conhecedor do campo, como podemos ver em seu blog.

O livro tem uma estrutura epistolar, baseando-se em cartas e diários para apresentar personagens e enredo, terminado em diários da personagem central, conforme a história finalmente alcança o tempo presente. Em 12 capítulos, os 10 primeiros são cartas de resposta a Janete, que procura por um certo Tadeu, entrando em contato com diversas pessoas para tal. Nas cartas, diversas pistas do que na verdade ocorre vão sendo apresentadas, enquanto muita nostalgia por parte dos remetentes é apresentada, envolvendo conhecidos em comum e alegres fatos de uma época, mesmo de uma cidade, que apesar de poucos anos antes, menos e menos se torna conhecida por seus habitantes. Nostalgia pura a princípio, é importante ressaltar que as cartas soam como se fossem realmente de pessoas diferentes, mudando o estilo a cada capítulo. Alguns mais formais, outros casuais, e pelo menos um em uma espécie de dialeto próximo, ou preferência pessoal. Ao longo de cada um, Tadeu vai sendo revelado, de mais um garoto, no meio da turma, que chegou meio que por último, até alguém único, inesquecível, adorado por todos, com uma ou outra excentricidade, que marcou as vidas de quem o conheceu.

O livro se passa em um Rio de Janeiro de 2040, onde enormes torres são construídas, descaracterizando velhos bairros e vizinhanças, e sendo habitadas apenas por estrangeiros vindos do hemisfério norte, como se nada fosse. Do garoto do passado curtido a esta inevitável mudança, intriga, tecnologia ilegal, ação e tiroteio, tribos urbanas e cultos esotéricos - o Rio 2040o. de Patati é ainda uma cidade de beleza e do caos, cyberpunk cuja ambientação apenas lamentamos ver pistas e descrições indiretas (apenas os bairros da Ilha do Governador e de Fátima chegam a realmente participar, com menções ou passagens rápidas por alguns outros, de a quantas anda seus estados), janelas de um lá fora que ocorre apenas quando evocado, ao invés de uma explanação mais direta - melhor assim, por outro lado, pois sempre nos convida a preencher certas lacunas.

Apesar de tudo, é um livro com uma batida leve. A nostalgia, o carinho perdido, tudo isto ainda está conosco quando chega o clímax, as terríveis revelações e tudo o mais. E o estilo da narrativa, apesar de já àquela altura ser o de apenas da protagonista, ele próprio se transforma, mergulhando na poesia, apenas pelo apreciar da paisagem, reforça esta idéia - apesar de suspeitas minhas que a sanidade mental de Janete esteja por trás desta escolha. ;-)

Mas ao contrário do que pode se esperar de uma obra cyberpunk, como já foi dito, tudo termina com uma aposta na esperança, no dever cumprido a recompensa, e que de alguma forma, assim como o Rio continua lindo, o Rio continua sendo, sempre haverá um amanhã bem-vindo, sempre um amor para continuar vivendo.

A Sorte dos Girinos. Bela estréia, meu velho.

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