domingo, 22 de maio de 2011

Caprica


Assisti os 17 episódios da única temporada de Caprica, série originada do remake de Battlestar Galactica, mostrando um pouco do mundo das doze colônias, passando-se 58 anos antes do ataque fulminante dos cylons.

É um formato bastante diferente da série original, não se passando em pleno espaço, mas antes em terra, em uma sociedade "intoxicada pelo sucesso", como foi dito na Wiki da série.

Isto tira a "ação espacial" e gera uma história que lembra séries como Dallas ou Dinastia, com o conflito de interesse dos ricos e poderosos levando a situações extremas e letais. Também há uma pequena dose de teen angst e, ainda, a concepção de moderno/avançado é apresentado com elementos retrô, para se referenciar no passado de BSG, em um efeito semelhante da Gotham City de Batman: The Animated Series.


Tudo isto e um roteiro por vezes com a impressão de truncado (especialmente na segunda parte da série, depois do intervalo da produção) podem afastar fãs potenciais, especialmente dos que apreciam mais o formato mais direto ao ponto da série de onde Caprica se originou (para tal, Blood and Chrome vem ai).

Ao situar a história tantas décadas antes, a idéia era mostrar como tudo começou: traços de personalidade dos cylons, a questão do monoteísmo x politeísmo e o fanatismo religioso + terrorismo, como robôs passam a ser psicóticos religiosos, as tensões entre os oriundos das diversas colônias (e, de quebra, a infância de Bill Adama, comandante da própria Galactica na série de 2004-2009 -- ok, houve aqui uma pequena trapaça, mas eu compreendo), etc.

Não sei se me esqueci ou não entendi algumas coisas, mas talvez alguns pontos entre ambas as séries, em termos de continuidade, tenham ficado não em aberto, mas conflitantes. Mas realmente não me incomoda, neste caso em específico.

A interação e as possibilidades de um mundo virtual (também presentes em um outro piloto de série não-relacionado com este universo do mesmo produtor, Virtuality - resenha minha aqui) são bastante exploradas na série, não somente sobre qual ambiente ser real ou virtual, mas se uma pessoa inteiramente digital pode vir a ser considerada real; tudo passando por com implicações de crença e manipulação religiosa.


Aproveita e faz um pequeno retrato dos EUA, em sua incessante paranóia com terrorismo, o lidar com outras etnias: o personagem de Daniel Greystone, nativo de Caprica, é o próprio WASP, os de Tauron são uma mistura de árabes (no sentido mais étnico, não religioso), gregos e mesmo sicilianos, especialmente por seus laços com crime organizado e fortes tradições familiares.

O elenco é muito bom, com Eric Stoltz finalmente aparecendo em mais do que cinco minutos de tela. Há ainda Polly Walker, a eterna Atia dos Julii em Roma.

Eu só tenho a lamentar que divergências criativas com o SyFy Channel encerraram uma das mais interessantes séries de ficção-científica que eu já vi. Havia muito, muito mais a ser explorado, um universo riquíssimo apresentado em um formato de programa que está longe da space opera ou do investigativo-paranormal em que parece se dividir a FC na televisão hoje em dia. Acho que veremos mais deste híbrido pela próxima década, talvez Caprica seja meio groundbreaking neste ponto, e pagou o preço por ser novidade.

Recomendo.

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